sexta-feira, 30 de setembro de 2011

15 minutos

Eles se veem todo dia no ônibus, as vezes duas vezes por dia, mas não se conhecem. Nunca conseguiram ficar próximos, nem na fila do ponto e nem dentro da condução. Nunca trocaram nem um simples "oi", mas já trocaram muitos olhares. Ele fica olhando pra ela, vendo cada detalhe, como um juiz num concurso de beleza, e a cada olhada dela ela dá uma disfarçada digna de ator profissional. Ela sabe que ele a admira, e de certa forma ama isso, toda mulher ama ser cobiçada, mesmo que não demonstre ela também sempre dá uma encarada nele. Ela provavelmente está estudando, pois sempre carrega uma mochila e as vezes lê uns resumos quando consegue ir sentada, ela tem um ar de sabedoria ao seu redor. Ele está indo trabalhar, imagina ela, pois ele também leva uma mochila, mas sempre traz um crachá no pescoço. Eles ficam nesse divertido jogo de adivinhações, tentando a cada dia decifrar alguma coisa mais sobre o outro, sempre olham nos dedos a procura de alianças, sempre esticam o ouvido pra ouvir alguma conversa do outro no celular e sempre ficam com ciúmes quando o outro manda um beijo na hora de desligar.
Não sei se eles vão se conhecer, se vão ficar, se vão namorar, noivar e casar, mas eles sentem amor um pelo outro. Pode não ser aquele "amor", mas é uma forma pura de amor, pois um cuida do outro, quando um não pega o ônibus, o outro já fica preocupado e pensa o dia todo o que teria ocorrido, e só relaxa quando a outra pessoa está no ponto no outro dia de manhã. É um tipo de amor livre de cobranças, de rotina, de medo, é um tipo de amor bonito de se ver, daquele que todos torcem pra dar certo, pra ter um "happy end".
Pode ser que eles nunca se falam, mudem de horário ou serviço, mas o importante é que pelo menos por um tempo um foi do outro, pois um ficou preso no coração do outro, um fez parte da vida do outro.
E a vida segue, chegam no ponto final, cada um vai para um lado, durante aqueles 15 minutos eles esqueceram das provas, dos patrões e só ficaram pensando um no outro, e isso fez o dia deles valer a pena. Mas antes de irem, cada um da uma última olhada no outro, pra ver se tudo está bem, e dessa vez, um sorriu para o outro.

Escrito ao som de "Anoiteceu em Porto Alegre" (EngHaw).

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

"Decifra-me ou te devoro"


Por favor, alguém poderia me ajudar a me entender? Ultimamente nem eu sei o que eu quero, são tantas estradas e pouco combustível para percorrê-las, ou eu encontro um atalho ou busco um combustível alternativo. Tenho o mundo todo na minha frente e nenhum GPS, será que devo me deixar levar pela corrente ou devo improvisar um remo?
Estou assim nesses dias, em vez de procurar respostas, prefiro inventar perguntas, em vez de apresentar soluções, crio mais problemas, estou meio que um rebelde sem causa, na verdade até tenho causas para defender, mas tô meio sem saco pra pintar a cara.
Tenho tantos planos, mas todos terminam no rigoroso inverno russo, e todos sabemos no que isso vai dar, Napoleão que o diga. Às vezes acho que estou num beco sem saída, como um rato de laboratório, parece que se eu não achar logo a saída vou levar um choque. Tenho as chaves nas mãos, mas todas as portas estão abertas.
Pode parecer a princípio um texto triste, melancólico, mas estou super feliz no momento, feliz até demais, esse na verdade é um texto de questionamentos, pois “tenho muito mais dúvidas do que certezas”, como diriam os Engenheiros do Hawaii, e nem sei por onde começar, talvez comece pelo princípio, mas como não sou nada ortodoxo, talvez invente mais dúvidas e deixe a bola de neve aumentar, pois se até a luz pode deixar de ser a “coisa” mais rápida do universo, quem sou eu pra me achar indubitável.

domingo, 25 de setembro de 2011

Qual paz queremos?


Cada dia que passa entendo menos a humanidade fala-se muito e pouco se faz. Todo dia ouço pessoas dizendo que temos que lutar pela paz, e isso é no mínimo um paradoxo, pois lutas nunca levaram a paz nenhuma. A paz começa dentro de cada um de nós, mas na nossa concepção de mundo, a paz tem de ser construída a nível global e não pessoal. Todos dizem que devem cessar as guerras do outro lado do globo, mas a sua guerra com seus vizinhos, amigos e familiares nunca acaba. Se você está em guerra consigo mesmo, como pode querer a paz?
Vejo muita gente falando de abraçar o irmão, estender a mão a quem necessita, mas nunca vi ninguém abraçar um mendigo ou um menino de rua. O nosso problema é que queremos que os outros façam a nossa parte, é mais confortável ajudar sem sair de dentro de casa, no conforto da sua cama quentinha.
Queremos que os artistas ajudem os outros, que doem dinheiro para as ONG’s, que façam shows gratuitos para ajudar entidades filantrópicas e acabamos esquecendo que eles são humanos como a gente, não são nem melhores nem piores, endeusamos muitos nossos “ídolos”. Gostamos de jogar a responsabilidade para os outros, porque assim é muito mais fácil e prático, desde que não suje minhas mãos, está perfeito.
Não sei se isso vem do DNA, se da cultura ou se é falta de vergonha na cara mesmo, mas espero que isso mude, pois se encontrarmos algum dia alguma sociedade cósmica, seremos tratados de igual pra igual, como seres responsáveis, ou seremos tratados como cobaias presas num labirinto?
Não somos o centro do universo, não somos nem o centro de uma galáxia e muito menos o centro do sistema solar, somos um em um milhão de planetas, tá na hora da humanidade começar a ser mais humilde e parar de se achar “o último biscoito do pacote”, “pois somos pó e ao pó voltaremos”.

sábado, 24 de setembro de 2011

Papo descontraído 1

Nessa nova sessão do blog vou discutir com vocês de casa sobre coisas do dia-a-dia, só papo informal, belê?



* O assunto do momento é o Rock in Rio, sou conservador quando o assunto é música, acho o seguinte, em um festival voltado para o rock, não deveria ser tocado só rock? Nunca ouvi falar de uma banda de rock abrindo um rodeio de Barretos e nem uma micareta. Nada contra outros estilos musicais, ouço outros estilos as vezes, mas convenhamos, "cada macaco no seu galho".

* Uma das minhas preocupações nos últimos dias foi a queda de um satélite na Terra. Graças a Deus ele caiu sem maiores estragos, mas já imaginaram um objeto de 60 T caindo dos céus sem previsão de data, hora e local? A Terra já está cheia de lixo e poluição, agora vamos poluir o espaço também? Sou super a favor da corrida espacial, mas temos que pensar nas consequências a longo prazo também. Sem esquecer que a Estação Internacional está em orbita, são 150 T, "que o satélite lhe seja leve".

* Tenho andado muito de ônibus ultimamente e apesar dos transtornos, superlotação e atrasos, gosto dessa experiência. Conheço novas pessoas e escuto conversas interessantes, histórias de vida e coisas do dia-a-dia que muitas vezes me inspiram a escrever. Esses dias estava ouvindo uma senhora se gabando sobre a filha dela, que estudava, trabalhava e ainda jogava vôlei e fiquei pensando em como as mães são superprotetoras e orgulhosas de suas "crias". Tudo que alguém falava ela retrucava em cima, contando vantagem da filha, não acho isso errado, mas as vezes a filha dela preferiria a mãe botando menos pressão do que contando vantagem no ônibus.

* Estava ouvindo Metallica esses dias, mais precisamente "The day that never comes" e uma colega me perguntou como eu conseguia ouvir "essa música do demo", na hora eu pensei, ela só pode estar dizendo isso por não conhecer a tradução da música. A maioria das letras das músicas de rock falam de amor e de paz, só porque tem solos de guitarras e baterias pesadas a música é do mal? Tem muita "música leve" que só diz merda, por isso prefiro meu bom e velho rock and roll barulhento mas que só me acrescenta conteúdo.




sábado, 17 de setembro de 2011

Seu poder sobre mim


Se você soubesse o poder que tem sobre mim, o poder que seu olhar tem sobre o meu, se você soubesse o que seu cheiro causa em mim, se soubesse que uma simples palavra sua se torna uma ordem pra mim.
É difícil acreditar que alguém tão doce e frágil como você consiga me derrubar, um homem feito como eu cai como um boneco de palha ao vento com sua simples presença, eu me tremo todo quando você abre sua boca perfeita e fala com sua voz melodiosa, mesmo que seja um assunto banal do dia-a-dia, sua voz tem o poder de me seduzir.
Como você consegue me encantar tanto? Fala pra mim o seu segredo, será que é essa sua pele, seus cabelos, seus olhos, ou o conjunto da obra?
Uma pequena distância nos separa, é pequena mas incomoda, a falta de tempo nos separa, temos pouco tempo livre, isso também atrapalha, mas somos como o fogo, só precisamos de uma fagulha pra começar, depois que nossos lábios se tocarem, tenho certeza que nem a distância e nem o tempo vão nos separar mais.
Você só tem um defeito, ainda não é minha. 

domingo, 11 de setembro de 2011

O nosso céu


Vocês nem imaginam como é triste olhar pra Lua e lembrar de todas as vezes que "aquela" pessoa disse o quanto ama a Lua cheia, o quanto é triste olhar para aquela estrela que você batizou com o nome dela, olhar para uma constelação qualquer e ver o rosto dessa pessoa.
Perdi a graça de olhar o céu a noite, e Deus sabe o quanto eu amo astronomia, mas não consigo mais, tudo lembra você. Seu sorriso está em tudo, sua voz sussurra com o vento, seu cheiro não sai do ar, sinto seu toque suave a todo momento, está sendo um tormento essa sua ausência.
Dói saber que você ainda olha o mesmo céu que eu mas não pensa mais em mim como eu ainda penso em você, que você olha o céu e o mostra para outra pessoa que não está nem um pouco interessada, uma pessoa que não divide a mesma paixão que nós, uma pessoa que não te merece, mas você diz que o ama, e eu não posso fazer nada contra isso, então por enquanto eu continuo minha mania de te proteger, nem que seja a distância, nem que você não saiba, estou te guardando como um anjo protetor. Toda vez que você sente um arrepio de frio, sou eu soprando ao teu lado, quando você sente aquele calorzinho no frio do fim de tarde, sou eu te abraçando, quando misteriosamente uma lágrima sua seca sem chegar ao seus lábios, fui eu que a sequei. Me faço de invisível para não te atrapalhar, pois não te mereço.
Só me resta ficar no meu canto, continuar com essa brincadeira de fingir que não me importo, de fingir que sou de ferro e não choro, de fingir que sou uma muralha indestrutível e ver o quanto aguento sem ruir, mas não desisto, só abandonei uma batalha para no fim vencer a guerra, pois você é minha lenda pessoal, e ninguém vai te tirar de mim.
Ainda voltaremos a olhar o céu juntos, aí poderemos chamá-lo de nosso céu, pois só nós o merecemos, ele é só nosso e nosso amor será do tamanho do universo, infinito.



Hole in my soul - Aerosmith

domingo, 4 de setembro de 2011

Como pedir uma pizza em 2030


Telefonista: Pizza Hot, boa noite!

Cliente: Boa noite! Quero encomendar pizzas...

Telefonista: Pode me dar o seu NIDN? 
Cliente: Sim, o meu número de identificação nacional é 6102-1993-8456-54632107.
Telefonista: Obrigada, Sr.Lacerda. Seu endereço é Avenida Paes de Barros, 1988 ap. 5 B, e o número de seu  telefone é 5494-2366, certo?   O telefone do seu escritório da  Lincoln Seguros é o 5745-2302 e o seu celular é 9266-2566.
Cliente: Como você conseguiu essas informações todas?
Telefonista: Nós estamos ligados em rede ao Grande Sistema Central.
Cliente: Ah, sim, é verdade! Eu queria encomendar duas pizzas, uma de quatro queijos e outra de calabresa...
Telefonista: Talvez não seja uma boa idéia...
Cliente: O quê?
Telefonista: Consta na  sua ficha médica que o Senhor sofre de hipertensão e tem a taxa de colesterol muito alta. Além disso, o seu seguro de vida proíbe categoricamente escolhas perigosas para a sua saúde.
Cliente: É  você tem razão! O que você sugere?
Telefonista: Por que o Senhor não experimenta a nossa pizza Superlight, com tofu e rabanetes? O Senhor vai adorar!
Cliente: Como é que você sabe que vou adorar?
Telefonista: O Senhor consultou o site 'Recettes Gourmandes au Soja' da Biblioteca Municipal,dia 15 de janeiro, às 4h27minh, onde permaneceu conectado à rede durante 39 minutos.
Daí a  minha sugestão...
Cliente: OK está bem! Mande-me duas pizzas  tamanho família!
Telefonista: É a escolha certa para o Senhor, sua esposa e seus 4 filhos, pode ter certeza.
Cliente: Quanto é?
Telefonista: São R$ 79,99.
Cliente: Você quer o número do meu cartão de crédito?
Telefonista: Lamento, mas o Senhor vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu
cartão de crédito já foi ultrapassado.
Cliente: Tudo bem, eu posso ir ao Multibanco sacar dinheiro antes que chegue a pizza.
Telefonista: Duvido que consiga! O Senhor está com o saldo negativo
no  banco.
Cliente: Mas o que é isso ?!!!! Mande-me as pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é que entregam?
Telefonista: Estamos um pouco atrasados, serão entregues em 45 minutos.  Se o Senhor estiver com muita pressa pode vir buscá-las, se bem que transportar duas pizzas na moto não é aconselhável, além de ser perigoso...
Cliente: Mas que história é essa, quem foi que disse que eu vou de moto?
Telefonista: Peço desculpas, mas reparei aqui que o Sr. não pagou as últimas prestações
do carro e ele foi penhorado. Mas a sua moto está paga, e então pensei que fosse utilizá-la...
Cliente: @#%/§@&?#>§/%#!!!!!!!!!!!!!
Telefonista: Gostaria de pedir ao Senhor para não me insultar...  Não se esqueça de que o Senhor já foi  condenado em julho de 2006 por desacato em público a um Agente Regional. O senhor não é mais réu primário...
Cliente: (Silêncio)
Telefonista: Mais alguma coisa?
Cliente: Não, é só isso... Não, espere... Não se esqueça dos 2 litros de Coca-Cola que constam na promoção. 
Telefonista: Senhor, o regulamento da nossa promoção, conforme citado no artigo 3095423/12, nos proíbe de vender bebidas com açúcar a pessoas diabéticas...
Cliente: Aaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!!!!!!
Vou me atirar pela janela!!!!!
Telefonista: Grande coisa! Aqui diz que o senhor mora num apartamento térreo !

Luís Fernando Veríssimo.